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O joyceano cinema de Prates

Edmar Pereira – Jornal da Tarde – São Paulo – 89

      Carlos Prates é um cineasta mineiro, fazendo filmes para mineiros? – indagava-se à saída de Minas Texas. A resposta será provavelmente afirmativa, tanto quanto no caso de se dizer que James Joyce escreve para irlandeses. Quem viveu em Dublin talvez se sinta mais próximo do universo de Dublinenses, é claro – o que não impede ou impossibilita outras formas de fruição. Com o joyceano cinema de Prates (o fluxo da consciência, a associação de idéias, de sonoridades, de gestos, o jogo com a imagem e com as palavras) acontece mais ou menos isso desde o revolucionário Cabaret Mineiro. Aqui o cineasta faz novamente um deslumbrante inventário arqueológico – memórias, histórias, fatos, suas interpretações, deformações – e relaciona essa cultura com a invasão da cultura e do imaginário estrangeiros, isto é, registra o seu processo de antropofagização.

      - De onde surgiu a ideia de Minas Texas?

      - O sol do crepúsculo batia nas torres de eletricidade perto de um cerrado coberto de pó entre Pirapora e Montes Claros. A cavalaria rosiana passava. Saltei do carro para observar direito, mas só enxerguei petróleo jorrando e atestando o equívoco. Desinteressado, parti célere na direção da cerveja que me aguardava pouco além do São Francisco, o grande rio. No bar, acertei com a cenógrafa o perfil de nosso herói a partir das queimadas setembrinas, cuja cor sempre me impressionara. Para o músico, apresentei a sugestão de um arroubo stravinskyano emergindo de Nyoka, que o deixou, com a viola em punho, bastante enfezado.

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